quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Modernidade Líquida

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra Modernidade Líquida, aponta o processo de liquefação nas diversas esferas da sociedade contemporânea (pública, privada, relacionamentos humanos). Nesse processo, instituições que antes eram sólidas (Estado, família) perdem sua forma e se liquefazem em curto espaço de tempo fazendo com que valores, sentimentos e relações sejam fluidos, escorram por entre as mãos devido a sua efemeridade, incapacidade de ganhar a forma sólida de antes.

O sujeito da Modernidade Líquida está imerso na solidão, apatia, insegurança e incapacidade de lidar de forma plena com seus afetos e sentimentos. Suas relações afetivas são marcadas pela volatilidade, inconstância, medo de ser descartado para o segundo plano assim que fizer algo que possa desagradar seus parceiros ou na possibilidade sempre iminente de ser trocado por alguém melhor, assim como ele próprio faz com os sujeitos com que se relaciona. Nesse sentido, os relacionamentos perdem a sua forma sólida para adquirir a fluidez da incerteza, da insegurança, do constante medo, do desapego coletivo.

Modernidade Líquida

O uso dos aplicativos de relacionamentos, na atualidade, representa muito bem uma das facetas do conceito de Modernidade Líquida apresentado por Bauman. Neles, encarna-se o culto à superficialidade, a supressão da personalidade que se molda às necessidades do momento, a ilusão de ser aceito só por ter recebido uma dada quantidade de “matches”. Nesse universo, os corpos são expostos como em vitrine de carnes vivas à disposição da apreciação coletiva. Corpos são eleitos ou excluídos para relacionamentos num simples deslizar de tela ou por meio de rápidas conversas que pouco ou nada dizem sobre os envolvidos que são facilmente descartados no primeiro desafeto ou discordância.

Talvez a formulação mais bem acabada dessa liquidez dos relacionamentos afetivos e sexuais no mundo dos aplicativos esteja na famosa formulação: “Nudes e um copo d’água não se nega a ninguém”. Muito provavelmente você já ouviu essa frase nas redes sociais ou entre amigos. Ela sintetiza o desapego, a volatilidade dos relacionamentos, o gozo imediato, a artificialidade no trato com o outro.

Claro que essas mudanças não são de todo negativas, pois elas abrem novas possibilidades, inclusive para pessoas que se dão muito bem com esse tipo de relacionamento descompromissado, não profundo, efêmero. Nem todo mundo está disposto a se envolver profundamente numa relação afetiva e sexual.

CARACTERÍSTICAS DA MODERNIDADE LÍQUIDA

  • Superficialidade e fragilidade dos relacionamentos afetivos e sexuais.
  • Personalidade moldável aos interesses do momento.
  • Processo de Individualização, egocentrismo.
  • Mercantilização das relações sociais.
  • Surgimento de novas patologias: solidão, isolamento, exclusão.

SUGESTÃO AUDIOVISUAL

Para complementar as informações aqui apresentadas sobre o conceito de Modernidade Líquida sugerimos o vídeo “O que é modernidade líquida?” da psicóloga Dra. Ana Gabriela Andriani. Nela, a partir de Bauman, ela apresenta o conceito e as consequências da liquidez das relações humanas na contemporaneidade.

Fábio Guimarães de Castro

Referências Bibliográficas

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. RJ: Zahar, 2003.

TFOUNI, Fabio Elias Verdiani; SILVA, Nilce. A modernidade líquida: o sujeito e a interface com o fantasma. Rev.Mal-EstarSubj:Fortaleza, v.8, n.1, p.171-194, mar. 2008.

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