O que são feminismos?
O objetivo deste texto é tratar brevemente a importância dos feminismos ou “feminismo das diferenças” que questiona a suposta sororidade universal do feminismo branco que ao ignorar as demandas de gênero, classe, raça, entre tantas outras interseccionalidades, terminam por apenas hierarquizar opressões em busca da legitimação de suas próprias demandas. Nesse contexto, ganha grande relevância o conceito de “interseccionalidade” que, de acordo com Heloisa Buarque de Holanda, a partir da leitura de Kimberlé Crenshaw, é “uma forma de olhar para as múltiplas exclusões articuladas e fazer justiça de forma mais criteriosa e legítima”. Hoje já se encontra mulheres que se autodenominam “feministas interseccionais”, mulheres adeptas de um contradiscurso ao feminismo tradicional considerando que as opressões se inter-relacionam.
FEMINISMO NEGRO
Para entender a importância do “feminismo negro” que faz parte dos feminismos, é preciso compreender que historicamente a relação da mulher negra com o movimento feminista fora marcada muito mais pelo conflito do que pelo pertencimento, em parte pela dificuldade de a mulher branca desconstruir seus privilégios de raça e classe para poder efetivamente ouvir e discutir pautas das mulheres negras. A luta é para que as narrativas das mulheres negras não sejam subalternizadas, marginalizadas dentro do feminismo hegemônico que tenta, a todo custo, preconizar a igualdade universal de todas as mulheres. O problema é que esse discurso privilegia apenas a mulher branca colocando como coadjuvantes todas as demais mulheres socialmente marcadas por opressões (deficientes, imigrantes, trans, lésbicas, etc).
A rapper Luana Hansen brilhantemente expôs a necessidade do feminismo negro ao abordar o seguinte: “enquanto as mulheres queimavam sutiã para ir trabalhar, nós, mulheres negras, sempre estivemos trabalhando; a gente nunca brigou para ir trabalhar, a gente brigou para ser respeitada”. Historicamente, a mulher negra sempre ocupou os piores empregos, recebeu os piores salários mesmo quando comparado com as mulheres brancas.
Stephanie Ribeiro, na obra de Heloisa (2018) exemplificando como a categoria raça pode definir a probabilidade de uma mulher estar ou não viva, apresenta o seguinte dado: na última década houve um aumento de 54,2% no número de assassinatos de mulheres negras, enquanto o índice entre as mulheres brancas diminuiu 9,8%. Aponta ainda que a mulher negra no ensino superior é a exceção. Somado a isso, a mulher negra no Brasil frequentemente é caracterizada ou como a Tia Nastácia de Monteiro Lobato, boa para o serviço doméstico ou a Rita Baiana de Aluísio Azevedo, pronta a despertar e satisfazer os instintos sexuais masculinos.
DATA IMPORTANTE: 25 de junho, sancionado pela Presidenta Dilma Rousseff como o dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Essa data, encontra referência no dia internacional da Mulher negra latino-americana e caribenha, tornando-se fundamental na discussão de pautas das mulheres negras, bem como na circulação de sua produção intelectual e artística.
SUGESTÕES DE SITE
- Blogueiras Negras
- Blog Gorda e Sapatao, de Jéssica Ipólito.
SUGESTÃO AUDIOVISUAL
FEMINISMO INDÍGENA
Enquanto em contextos citadinos a mulher está muito mais próxima dos protagonismos feministas, das disputas de poder, nas aldeias urge a necessidade de amplificar o debate para que mulheres indígenas possam, também, reivindicar para si o direito à resistência aos papéis que lhes foram culturalmente impostos dentro das comunidades.
Dentre as suas reivindicações, cumpre citar: o acesso a cargos políticos de representação em suas comunidades, o reconhecimento por parte dos homens de suas decisões políticas, políticas, capacitação para que possam exercer profissões dentro e fora de suas aldeias, o direito de não serem estupradas, assassinadas por capangas do agronegócio como forma de intimidação de seu povo. Reivindicam ainda dados oficiais sobre a violência sofrida por mulheres indígenas para que políticas públicas possam atender suas demandas.
FEMINISMO ASIÁTICO
O feminismo asiático surge da necessidade de mulheres asiáticas e descendentes reclamarem vocalização, visibilidade e representatividade dentro do feminismo contemporâneo. Partindo disso, as pautas do feminismo asiático se coloca no sentido de reclamar a solidariedade étnica e racial, lutar contra a xenofobia e contra a objetificação, fetichização e exotificação de seus corpos, a quebra da tradição do silêncio diante das situações de violência bastante comuns na cultura asiática e a desconstrução de tabus quanto a orientação sexual e identidade de gênero nas suas culturas, a desconstrução de padrões de beleza e embranquecimento.
SUGESTÕES DE SITES
- Asiáticos pela Diversidade (página do Facebook).
- Feminismo Asiático (Facebook).
- Plataforma Lotus
TRANSFEMINISMO
A luta das mulheres trans e travestis se dá primordialmente na necessidade de se questionar a noção cissexista sobre elas, bem como a frequente tentativa de apagar, silenciar, depreciar as demandas e existência concreta das pessoas trans. Reclamam o acesso igualitário aos espaços de poder e empregabilidade, a despatologização das identidades trans, o direito à vida roubado pelo transfeminicídio que faz com que travestis tenham uma média de vida de 35 anos (enquanto a mulher cisgênero beira os 75), o direito à retificação de sua identidade no registro civil, aceitação familiar e espaços institucionais inclusivo. Vale ressaltar que as mulheres trans e travestis, como bem relembra Helena Vieira: “sofremos dos mesmos mecanismos machistas de objetificação sexual” bem como “a hiperssexualização das mulheres trans é ainda maior”.
FEMINISMO RADICAL
O feminismo radical levanta a questão de que o patriarcado é profundamente opressor às mulheres que, ao estabelecer uma espécie de “casta sexual” privilegia os homens em detrimento das mulheres, subordinando-as e subalternizando-as a eles. Conforme aborda Eloisa Samy, defendem a abolição do conceito de gênero por ver nele a imposição de papéis estereotipados sobre o ser mulher. Nesse sentido, o sexo deixa de ser pensado como identidade para adquirir a noção de posição de casta. Ainda conforme Eloisa, em razão dessa crítica de gênero, o movimento tende a não apoiar a transgeneridade. Não raramente as radfem são acusadas de transfóbicas, rendendo a alcunha de TERF “Feminista Radical Trans-Excludente”. Cumpre ponderar que nem toda radfem é TERF, ainda que algumas façam jus à acusação; excluindo formalmente pessoas trans de seus espaços políticos e organizacionais e negando a importância das demandas trans. Dentre as suas clássicas posições estão: a crítica de gênero, a oposição declarada à transgeneridade, à prostituição e pornografia.
Fábio Guimarães de Castro
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Explosão feminista: arte, cultura, política e universidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
MARTINA, Thalyta. Cinco razões pelas quais o feminismo negro é importante. Alma Preta, 2018.
SANTOS, Jaqueline Lima. O feminismo negro como perspectiva. Portal Geledés, 2011.
WEST, Erica. As armadilhas do feminismo radical. Movimento Revista, 2017.
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